sábado, 25 de janeiro de 2020

Sábado da 2ª semana do Tempo Comum


Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo 
 
(Lib. 4,18,1-2.4.5: SCh 100,596-598.606.610-612) 

(Séc. II) 
 

A oblação pura da Igreja 
 
Sacrifício puro e aceito por Deus é a oblação da Igreja, tal como o Senhor lhe ensinou a oferecer em todo o mundo. Não por necessitar de nosso sacrifício, mas porque o ofertante se enche de glória quando seu dom é aceito. Pela dádiva a um rei manifesta-se a homenagem e afeição. Querendo o Senhor que, com simplicidade e inocência, oferecêssemos nossos dons, deu-nos o preceito: Se estás para fazer tua oferta diante do altar e te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então, vem fazer a tua oferta. Faz-se, pois, mister oferecer a Deus as primícias de suas criaturas, como Moisés também já dissera: Não te apresentarás de mãos vazias diante do Senhor, teu Deus. Quando o homem quer manifestar a Deus sua gratidão, oferece-lhe os próprios dons por ele mesmo dados e recebe a honra que dele provém.
Nenhuma das oblações é rejeitada: oblações lá e oblações aqui; sacrifícios entre o povo, sacrifícios na Igreja. A forma, porém, de tal maneira mudou, que já não mais por servos são oferecidos, mas por filhos. Um só e o mesmo é o Senhor; há, contudo, o caráter próprio à oblação dos filhos, de modo que as oblações são sinal da liberdade possuída. Para Deus não há nada vão, nem sem significado ou motivo. Por isto, o seu povo lhe consagrava os dízimos. Mas depois, aqueles que receberam a graça da liberdade põem à disposição do Senhor tudo quanto possuem, dando com alegria e generosidade e não apenas as coisas de menor valor, pela esperança que têm das maiores; como aquela viúva tão pobre que pôs no cofre de Deus tudo o que possuía.
Cumpre, então, fazermos oblações a Deus e em tudo sermos gratos ao Criador, com mente pura e fé sincera, na firme esperança, na caridade fervorosa, oferecendo-lhe as primícias da criação, criação que lhe pertence. E a Igreja é a única a fazer ao Criador esta oblação pura, que provém de sua criação, oferecendo-a em ação de graças. Pois lhe oferecemos o que já é seu, proclamando como é justo a comunhão e a unidade e confessando a ressurreição da carne e do espírito. O pão que vem da terra, ao receber a invocação de Deus, já não é mais pão comum mas a eucaristia, feita de dois elementos, o terreno e o celeste; do mesmo modo, por receberem a eucaristia, já não são corruptíveis nossos corpos; possuem a esperança da ressurreição.

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